Assepsia, 2025

A linguagem está sempre inquieta e às vezes solicita que as letras e as palavras passem urgentemente por uma assepsia, e uma vez terminada essa metamorfose, ao abrir a tampa elas saiam novinhas em folha, agora limpas e cheirosas, prontas para serem vestidas a fim de ver realmente como está o mundo lá fora… Atualmente, letras e palavras não têm aroma, seus odores são quase insuportáveis. Perto de uma carnificina, os acordos são palavras e frases vazias que nem mesmo enganam as crianças ao ter medo de tamanha escuridão. Tantos acordos desfeitos, desacordos em série, tanta sujeira que será necessário ligar no modo turbo com duplo enxágue, principalmente quando as palavras já estão desbotadas, encardidas e com cheiro de esgoto. A espetacularização da mentira é algo aterrador e abominável em meio ao mundo da pós-verdade. Às vezes os silêncios de nossa alma falam mais do que as palavras. As letras estão cada vez mais distantes e dispersas e as palavras perderam suas cores, e seus tecidos já não são fortes o bastante para segurar suas linhas, traços e elos. Falar pode ser dizer menos que o silêncio. Talvez uma assepsia possa ser uma saída para um mundo possível…

Fotografia Digital
(Pigmentos minerais sobre papel de fibra de algodão)
83 x 83 cm